
A Rainha das Águas
Odô Iyá, YEMANJÁ!
Entre as Iabás, as poderosas divindades femininas do panteão iorubá, Iemanjá se destaca como a mais venerada e celebrada. Conhecida como a Rainha do Mar, sua influência transcende as fronteiras da África, ecoando fortemente nas tradições religiosas do Brasil, Cuba e outras partes da diáspora africana. No Brasil, suas festas são grandiosas, especialmente no dia 2 de fevereiro, quando milhares de devotos se reúnem nas praias da Bahia para homenageá-la. Em São Paulo, ela é celebrada em 8 de dezembro, e no Rio de Janeiro e Natal, sua presença é marcante durante as festas de Réveillon, quando oferendas são lançadas ao mar em sua honra. Flores brancas, perfumes, joias, espelhos e bijuterias são alguns dos presentes que seus filhos lhe oferecem, buscando sua proteção e bênçãos.
Iemanjá é mais do que uma divindade; ela é um arquétipo universal da maternidade, da nutrição e da proteção. Suas histórias e mitos falam de liberdade, resistência e amor incondicional. Seja como a Rainha do Mar, a Mãe dos Peixes ou a Senhora das Águas, Iemanjá continua a inspirar e acolher seus filhos, guiando-os através das tempestades da vida com sua sabedoria e compaixão. Em suas águas, encontramos não apenas refúgio, mas também a força para seguir em frente, sabendo que, como seus filhos, nunca estamos sozinhos.
A Mãe da Humanidade
No entanto, a imagem popular de Iemanjá muitas vezes se distancia de suas raízes africanas. Representada como uma mulher de pele clara, vestida em um longo traje azul, com cabelos negros e ondulados que caem sobre seus ombros, ela é frequentemente associada à figura de uma sereia ou à Virgem Maria, devido ao sincretismo religioso. Essa representação, porém, esconde a essência de sua verdadeira identidade: a de uma mãe africana, forte, protetora e profundamente conectada às águas e à vida. Seu título, Odô Iyá (Mãe das Águas), reflete sua natureza primordial como fonte de vida e nutrição.
A Mãe dos Orixás
Na mitologia iorubá, Iemanjá é filha de Olokun, a divindade das profundezas do oceano, senhora das riquezas insondáveis e dos mistérios do mar. Diz-se que Olokun presenteou Iemanjá com uma garrafa mágica, contendo um preparado especial, com a instrução de quebrá-la em caso de perigo. Esse presente seria crucial em um dos momentos mais dramáticos de sua história.
Iemanjá foi esposa de dois grandes orixás: Orunmilá, o senhor da adivinhação e dos segredos do destino, e Olofin-Ododúa, o poderoso rei de Ifé. Com este último, ela teve dez filhos, cada um representando uma força da natureza ou um aspecto da vida humana. Dois de seus filhos mais conhecidos são Oxumarê, o arco-íris que desloca a chuva e guarda o fogo em seus punhos, e Xangô, o trovão que se revela com a tempestade. Esses filhos simbolizam a diversidade e a complexidade da criação, refletindo o papel de Iemanjá como a grande mãe de todos os orixás.
Cansada da vida em Ifé e da rigidez de seu casamento com Olofin, Iemanjá decidiu partir em busca de liberdade. Ao fugir para o oeste, em direção a Abeokutá, ela foi perseguida pelo exército de Ifé. Encurralada e sem saída, Iemanjá quebrou a garrafa mágica que sua mãe lhe dera. Imediatamente, um rio surgiu do chão, carregando-a de volta para o mar, o reino de Olokun. Esse mito não apenas explica a conexão de Iemanjá com as águas, mas também simboliza sua busca por autonomia e sua ligação eterna com o oceano.
A Matrona dos Seios
Iemanjá é frequentemente representada como uma matrona majestosa, com seios volumosos que simbolizam sua capacidade de nutrir e sustentar a vida. Seus seios são tão proeminentes que, em algumas lendas, eles se tornam fonte de conflito. Certa vez, seu marido, embriagado pelo vinho de palma, fez um comentário irônico sobre o tamanho de seus seios. Iemanjá, profundamente ofendida, bateu o pé no chão e transformou-se em um rio, retornando ao mar. Esse episódio reforça sua natureza orgulhosa e sua intolerância à desrespeito.
Sua imagem é carregada de simbolismo: os seios representam a maternidade e a nutrição; o vestido azul reflete as águas que ela governa; e os longos cabelos negros evocam as correntes marítimas e a profundidade do oceano. Ela é a personificação da fecundidade, da restauração das emoções e da proteção maternal.
Oferendas e Rituais
Iemanjá é uma divindade generosa, mas também exigente. Para agradá-la, seus devotos oferecem uma variedade de presentes, incluindo flores brancas, perfumes, joias, espelhos, pentes e alimentos como milho branco cozido, canjica e peixes. Suas oferendas são colocadas em cestas decoradas e lançadas ao mar, em um ritual que simboliza a entrega de desejos e súplicas à Rainha das Águas.
No dia 2 de fevereiro, na Bahia, a festa de Iemanjá atrai milhares de pessoas à praia do Rio Vermelho. Desde o amanhecer, fiéis formam filas para depositar suas oferendas em grandes cestas, que são levadas para o mar em barcos decorados. Se as oferendas são aceitas, elas afundam, sinal de que Iemanjá as recebeu com benevolência. Se forem devolvidas à praia, é interpretado como um sinal de recusa, causando tristeza e preocupação entre os devotos.
As Diversas Faces
Iemanjá é uma divindade complexa, manifestando-se em diferentes formas e aspectos, cada um com suas próprias características e histórias. No Brasil e em Cuba, ela é conhecida por sete nomes principais, cada um associado a um aspecto específico de sua natureza:
- Yemowô: A esposa de Oxalá, associada à pureza e à criação.
- Yamassê: A mãe de Xangô, ligada à justiça e ao poder.
- Yewá (Euá): A guardiã dos segredos e mistérios.
- Olossá: A senhora das lagoas e águas calmas.
- Yemanjá Yogunté: A guerreira, companheira de Ogun, que carrega um facão e é temida por sua força.
- Yemanjá Assaba: A fiandeira de algodão, orgulhosa e reservada.
- Yemanjá Assessú: A senhora das águas agitadas, lenta em atender pedidos, mas profundamente sábia.
Cada uma dessas manifestações revela um aspecto diferente de Iemanjá, mostrando sua versatilidade e profundidade como divindade.
Características da Filhas
As filhas de Iemanjá, tanto no sentido espiritual quanto simbólico, compartilham muitas de suas características. São mulheres fortes, protetoras e altivas, que não toleram desrespeito ou falsidade. Como sua mãe, elas são orgulhosas e maternais, sempre dispostas a cuidar daqueles que amam. No entanto, também podem ser impetuosas e rancorosas, guardando mágoas por longos períodos.
Elas apreciam o luxo e a beleza, gostando de roupas elegantes, joias e perfumes. Mesmo que suas circunstâncias não permitam uma vida de ostentação, elas sempre encontram maneiras de se cercar de beleza e conforto. Sua conexão com as águas também se reflete em sua personalidade: são emocionalmente profundas, capazes de grandes gestos de amor, mas também de fúria quando provocadas.
Sincretismo e Popularidade
No Brasil, Iemanjá é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, uma das figuras mais veneradas da Igreja Católica. Essa associação reflete a capacidade de adaptação e resistência das tradições africanas, que encontraram maneiras de sobreviver e florescer em um contexto de opressão. A festa de Iemanjá no dia 2 de fevereiro é um exemplo dessa fusão, atraindo pessoas de todas as origens e crenças.
A imagem de Iemanjá como uma sereia de longos cabelos ao vento, navegando sobre as ondas, captura a imaginação popular. Ela é chamada de Dona Janaína, a Princesa do Mar, e sua presença é sentida em cada onda que quebra na praia, em cada brisa que sopra do oceano. Sua popularidade transcende as barreiras religiosas, tornando-a um símbolo de esperança, proteção e amor maternal.
Foto Galeria
Odoyá, Iemanjá!






Características Gerais
- Origem: Iemanjá é uma divindade africana, originária da mitologia iorubá, cultuada principalmente no Benin, Nigéria e em países da diáspora africana, como Brasil e Cuba.
- Significado do Nome: Seu nome deriva da expressão iorubá "Yèyé omo ejá", que significa "Mãe cujos filhos são peixes", simbolizando sua conexão com a vida aquática e sua natureza maternal.
- Personalidade: Iemanjá é conhecida por seu caráter maternal, protetor e nutridor. No entanto, também é orgulhosa, forte e, em alguns mitos, impetuosa quando desrespeitada.
- Representação: É frequentemente retratada como uma mulher majestosa, de seios volumosos (símbolo de nutrição), vestida em trajes azuis ou brancos, com longos cabelos negros que fluem como as ondas do mar.
Elementos e Símbolos
- Cores: Azul-claro, branco e prata, representando as águas e a pureza.
- Símbolos:
- Abebé: Leque de metal branco, usado em danças rituais.
- Cajado: Símbolo de autoridade e proteção.
- Conchas e Pedras Marinhas: Representam sua ligação com o mar.
- Barcos e Peixes: Simbolizam seu domínio sobre as águas e a vida aquática.
- Elementos Naturais: Água salgada (mar), rios e lagoas.
- Animais: Peixes, sirénios e, em algumas tradições, carneiros (usados em sacrifícios).
Domínios e Poderes
- Domínios:
- Mar: Iemanjá é a senhora das águas salgadas, governando os oceanos e suas criaturas.
- Maternidade: É considerada a mãe de todos os orixás e da humanidade, simbolizando a criação e a nutrição.
- Emoções: Está associada à cura emocional, ao acolhimento e à restauração do equilíbrio interior.
- Poderes:
- Cura e Proteção: Capaz de acalmar tempestades emocionais e físicas.
- Fertilidade: Abençoa casais com filhos e garante a prosperidade das famílias.
- Justiça: Pode ser implacável com aqueles que desrespeitam suas leis ou ofendem seus filhos.
Ritualísticas e Oferendas
- Dia da Semana: Sábado, dia consagrado a Iemanjá e outras Iabás (divindades femininas).
- Oferendas Comuns:
- Flores: Rosas brancas, lírios e margaridas.
- Alimentos: Canjica, milho branco cozido, peixes, arroz e frutas.
- Objetos: Espelhos, pentes, joias, perfumes e bijuterias.
- Bebidas: Água mineral, champanhe e vinho branco.
- Rituais:
- Festa de Iemanjá (2 de fevereiro): Celebração popular na Bahia, onde oferendas são levadas ao mar em cestas decoradas.
- Banhos Ritualísticos: Banhos com ervas e flores para purificação e proteção.
- Cânticos e Danças: Cantos como "Odoyá" e danças com movimentos fluidos, imitando as ondas do mar.
Mitos e Histórias
- A Fuga para o Mar: Iemanjá fugiu de Ifé após conflitos com seu marido, Olofin. Ao quebrar uma garrafa mágica dada por sua mãe, Olokun, um rio surgiu e a levou de volta ao mar.
- O Casamento com Oxalá: Representa a união entre o céu e o mar, simbolizando a harmonia entre os elementos.
- Os Dez Filhos: Iemanjá teve dez filhos com Olofin, cada um representando um aspecto da natureza ou da vida humana, como Oxumarê (arco-íris) e Xangô (trovão).
- O Orgulho Ferido: Em uma lenda, Iemanjá transformou-se em um rio após ser ofendida por seu marido, que zombou de seus seios volumosos.
Culto e Devoção
- Sincretismo Religioso:
- No Brasil, Iemanjá é associada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição e Nossa Senhora dos Navegantes.
- Em Cuba, é sincretizada com Nossa Senhora de Regla.
- Locais de Culto:
- Praias: Principalmente na Bahia, Rio de Janeiro e Natal.
- Rio Ogun: Na África, é um de seus principais locais de culto.
- Templos e Terreiros: Espaços dedicados a Iemanjá em casas de candomblé e umbanda.
- Devoção Popular: Iemanjá é uma das divindades mais amadas e cultuadas no Brasil, atraindo fiéis de diversas religiões e origens.
Curiosidades e Informações Adicionais
- Iemanjá na Cultura Popular:
- Aparece em músicas, filmes e obras de arte, simbolizando a força feminina e a conexão com a natureza.
- É frequentemente retratada como uma sereia ou uma figura maternal envolta em ondas.
- Variantes de Iemanjá:
- Yemowô: Associada à pureza e à criação.
- Yemanjá Yogunté: A guerreira, companheira de Ogun.
- Yemanjá Assessú: A senhora das águas agitadas.
- Saudações:
- "Odoyá!": Saudação comum, que significa "Mãe das Águas!".
- "Erù Iyá!": "Salve a Mãe!".
Arquétipo das Filhas e Filhos de Iemanjá
- Personalidade:
- Fortes, protetoras e altivas.
- Orgulhosas, mas generosas e maternais.
- Podem ser rancorosas quando ofendidas.
- Preferências:
- Gostam de luxo, joias e roupas elegantes.
- Apreciam cores claras, especialmente azul e branco.
- Têm uma conexão profunda com a água e a natureza.
- Desafios:
- Tendência ao orgulho excessivo.
- Dificuldade em perdoar ofensas.
Iemanjá no Mundo Contemporâneo
- Ecologia: Iemanjá tornou-se um símbolo da preservação dos oceanos e da natureza, inspirando movimentos ecológicos.
- Empoderamento Feminino: Representa a força e a independência das mulheres, sendo um ícone para muitas feministas.
- Globalização do Culto: Sua devoção se espalhou para além da África e das Américas, alcançando países da Europa e da Ásia.
Iemanjá é uma divindade complexa e multifacetada, cuja influência transcende fronteiras e religiões. Como a Mãe das Águas, ela simboliza a vida, a nutrição e a proteção, acolhendo todos os seus filhos com amor e sabedoria. Seu culto é uma celebração da natureza, da feminilidade e da conexão humana com o sagrado. Odoyá, Iemanjá!
