YANSÃ Eparei Oyá!

Yansã, também conhecida como Oyá, é uma das mais poderosas e reverenciadas entidades femininas nas tradições africanas e afro-brasileiras. Ela é a senhora dos ventos, das tempestades e do rio Niger, chamado em Yorubá de Odô Oyá. Sua presença é marcante, e sua energia é tão forte que, quando convocada, ela se coloca à frente de todas as outras divindades femininas. No Brasil, Yansã é sincretizada com Santa Bárbara, a santa protetora contra raios e tempestades, e seu culto é profundamente enraizado na cultura afro-brasileira, especialmente no Candomblé e na Umbanda.

A Deusa dos Ventos e das Tempestades

A história de Yansã remonta a aproximadamente 1.400 a.C., na Nigéria, onde ela nasceu em uma família real. Filha de Iemanjá, a mãe dos oceanos, e Oxalá, o criador do universo, Yansã herdou a força e a majestade de seus pais. Ela é conhecida como a esposa de Xangô, o poderoso orixá do trovão e da justiça, com quem compartilha uma relação intensa e tempestuosa. Sua personalidade é tão ardente quanto o fogo que Xangô comanda, e sua determinação é inabalável. Yansã nunca deixa uma pergunta sem resposta, e sua presença é sempre associada à ação e à transformação.

Uma das lendas mais marcantes sobre Yansã conta que Xangô a enviou em uma missão ao país dos Baribas para buscar um preparado mágico que lhe permitiria cuspir fogo pela boca e pelo nariz. Curiosa e impulsiva, Yansã desobedeceu às ordens de Xangô e experimentou o preparado durante o caminho de volta. Assim, ela também adquiriu a habilidade de lançar chamas, o que desagradou profundamente Xangô, que desejava manter essa capacidade exclusivamente para si. No entanto, Yansã provou ser uma companheira leal e corajosa. Quando Xangô fugiu para o país de Tapa após o fim de seu reinado, Yansã foi a única de suas esposas que o seguiu, demonstrando sua devoção e bravura.

A Personalidade de Yansã: Fogo e Paixão

Yansã é uma divindade de temperamento forte, impetuosa e apaixonada. Ela é a personificação da força feminina, da coragem e da independência. Seus filhos, aqueles que são regidos por sua energia, compartilham de suas características: são temperamentais, audaciosos e diretos. Eles falam o que pensam, sem medo de enfrentar as consequências, e são conhecidos por sua natureza aventureira. Amam e odeiam com a mesma intensidade, e sua lealdade é tão grande quanto sua capacidade de se indignar.

Yansã é uma guerreira nata. Ela empunha um alfanje, símbolo de sua força e determinação, e usa um espanta-moscas feito de cauda de cavalo, representando sua conexão com os ventos e a liberdade. Suas danças são rápidas e sinuosas, evocando a fúria das tempestades e a agilidade dos ventos. Quando ela se manifesta em seus fiéis, sua presença é inconfundível: ela dança com bravura, brandindo sua espada e desafiando qualquer um que ouse enfrentá-la.

A Conexão com os Egunguns

Yansã está profundamente ligada ao culto dos Egunguns, os espíritos dos ancestrais. Ela é a única orixá capaz de enfrentar e dominar esses seres, o que a torna uma figura central nos rituais de comunicação com os mortos. A lenda conta que Yansã, ao criar as roupas dos Egunguns, formou uma sociedade secreta composta apenas por mulheres. Essas mulheres usavam as vestimentas dos Egunguns para se vingar dos homens, enganando-os e causando confusão. No entanto, os homens eventualmente descobriram o segredo e tomaram o controle da sociedade, excluindo as mulheres para sempre.

O Número Nove como Símbolo

O número nove é um símbolo poderoso na mitologia de Yansã. Seu nome, Yansã, deriva da expressão Yorubá "Iya omo mesan", que significa "mãe de nove filhos". Esse número está associado aos nove braços do delta do rio Niger e aos nove filhos que Yansã teve com o caçador que a descobriu em sua forma de búfalo. A lenda conta que Yansã, ao se transformar em búfalo, deixou seus chifres para seus filhos, dizendo-lhes que, em caso de necessidade, bastaria bater os chifres um contra o outro para que ela viesse em seu socorro. Por isso, os chifres de búfalo são sempre colocados em locais consagrados a Yansã.

Aspectos Ritualísticos e Simbologia

No Brasil, os devotos de Yansã usam colares de contas de vidro na cor vinho, que representam sua energia vibrante e apaixonada. A quarta-feira é o dia da semana consagrado a ela, o mesmo dia de Xangô, seu marido. Seus símbolos incluem os chifres de búfalo, o alfanje e o espanta-moscas, que são colocados sobre seu Oeji (altar). Yansã recebe oferendas de cabras e acarajés, mas detesta abóbora e carne de carneiro, que lhe são proibidas.

Quando Yansã se manifesta em uma iniciada, ela aparece adornada com uma coroa cujas franjas de contas escondem seu rosto, simbolizando o mistério e o poder que ela carrega. Suas danças são uma expressão de sua natureza guerreira e indomável, e ela não hesita em duelar com Ogun, o orixá do ferro e da guerra, relembrando suas antigas divergências.

O Arquétipo de Yansã: A Mulher Guerreira

Yansã representa o arquétipo da mulher forte, audaciosa e independente. Ela é a protetora das mulheres que ousam desafiar as convenções e lutar por seus direitos. Sua energia é ao mesmo tempo sensual e destemida, e ela não tem medo de seguir seus instintos, seja no amor ou na guerra. No entanto, sua paixão e seu ciúme podem levá-la a extremos, e ela é capaz de grandes explosões de raiva quando se sente traída ou desrespeitada.

As mulheres de Yansã são líderes naturais, dotadas de uma força interior que as capacita a enfrentar qualquer desafio. Elas são fiéis e leais, mas também exigem o mesmo em troca. Quando contrariadas, podem se tornar implacáveis, mas sua generosidade e coragem as tornam figuras inspiradoras e admiráveis.

Yansã é uma divindade complexa e fascinante, cuja energia está presente em todos os aspectos da vida. Ela é a tempestade que varre o velho para dar lugar ao novo, o vento que traz mudanças e transformações. Seus fiéis a celebram com gritos de "Epa Heyi Oyá!", reconhecendo sua força e sua bravura. No Brasil, ela é sincretizada com Santa Bárbara, e em Cuba, com Nossa Senhora da Candelária, mas sua essência permanece a mesma: Yansã é a senhora dos ventos, a guerreira que enfrenta qualquer desafio com coragem e determinação.

Epa Heyi Oyá! Que Yansã nos guie com sua força e sabedoria!

Características Gerais de Yansã (Oyá)

• Origem: Yansã é uma divindade africana originária da cultura Yorubá, na Nigéria. Seu culto foi trazido para as Américas durante o tráfico transatlântico de escravizados.
• Sincretismo: No Brasil, Yansã é sincretizada com Santa Bárbara, e em Cuba, com Nossa Senhora da Candelária.
• Personalidade: Yansã é conhecida por seu temperamento forte, impetuoso e apaixonado. Ela é uma guerreira, líder e protetora, mas também pode ser vingativa quando traída ou desrespeitada.
• Arquétipo: Representa a mulher independente, corajosa e determinada, que não tem medo de enfrentar desafios. É associada à transformação, à liberdade e à justiça.
• Cores: Vermelho (principal), vinho, marrom e rosa. Essas cores representam sua energia vibrante e sua conexão com o fogo e a paixão.
• Dia da Semana: Quarta-feira, o mesmo dia consagrado a Xangô, seu marido.

Elementos e Símbolos de Yansã

• Elementos Naturais:
  • Ventos: Yansã é a senhora dos ventos, controlando tempestades, furacões e brisas.
  • Fogo: Associada ao fogo por sua conexão com Xangô e sua capacidade de cuspir chamas.
  • Água: Representada pelo rio Niger (Odô Oyá), que é um de seus domínios.
• Símbolos:
  • Alfanje (Espada): Representa sua natureza guerreira e sua capacidade de cortar energias negativas.
  • Espanta-moscas (Iruke): Feito de cauda de cavalo, simboliza sua autoridade e conexão com os ventos.
  • Chifres de Búfalo: Representam sua força e proteção, além de sua ligação com os Egunguns (espíritos dos ancestrais).
  • Coroa com Franjas: Usada em suas manifestações, esconde seu rosto, simbolizando mistério e poder.

Domínios e Poderes de Yansã

• Domínios:
  • Tempestades e Ventos: Yansã controla os ventos, tempestades e fenômenos climáticos, podendo trazer destruição ou renovação.
  • Transformação: Ela é associada a mudanças bruscas e necessárias, tanto na natureza quanto na vida das pessoas.
  • Comunicação com os Mortos: Yansã é a única orixá capaz de dominar os Egunguns, espíritos dos ancestrais.
  • Justiça e Proteção: Como guerreira, Yansã defende seus filhos e devotos contra injustiças e energias negativas.
• Poderes:
  • Capacidade de cuspir fogo e controlar chamas.
  • Domínio sobre os ventos, podendo acalmar ou desencadear tempestades.
  • Habilidade de se comunicar com os mortos e proteger os vivos contra influências malignas.

Ritualísticas e Oferendas para Yansã

• Oferendas:
  • Comidas: Acarajé (bolinho de feijão-fradinho frito), feijão fradinho cozido, cabra assada ou cozida.
  • Bebidas: Champanhe ou vinho tinto.
  • Velas: Vermelhas ou vinho.
  • Flores: Rosas vermelhas ou flores do campo.
  • Proibições: Abóbora e carne de carneiro são estritamente proibidos.
• Rituais:
  • Danças: Suas danças são agitadas e guerreiras, imitando o movimento dos ventos e tempestades.
  • Cantigas: Cantos em Yorubá que invocam sua presença e contam suas histórias.
  • Ferramentas Ritualísticas: Alfanje, espanta-moscas e chifres de búfalo são usados em cerimônias.
  • Dia de Festa: 4 de dezembro (dia de Santa Bárbara, sua correspondente no sincretismo).

Mitos e Histórias de Yansã

• A Descoberta do Fogo: Yansã desobedeceu Xangô e experimentou o preparado mágico que permitia cuspir fogo, ganhando essa habilidade para si.
• A Fuga com Xangô: Yansã foi a única esposa de Xangô que o seguiu em sua fuga para o país de Tapa, demonstrando lealdade e coragem.
• A Transformação em Búfalo: Yansã se transformou em um búfalo para proteger seus filhos, deixando seus chifres como símbolo de proteção.
• A Criação das Roupas dos Egunguns: Yansã criou as roupas dos Egunguns e formou uma sociedade secreta de mulheres, que usavam as vestimentas para se vingar dos homens.
• O Conflito com Ogun: Yansã fugiu com Xangô, deixando Ogun, seu antigo companheiro, que a perseguiu e a dividiu em nove partes, originando seu nome Yansã (Iya omo mesan, "mãe de nove filhos").

Culto e Devoção a Yansã

• Locais de Culto: Yansã é cultuada em terreiros de Candomblé e Umbanda, onde possui altares específicos com seus símbolos.
• Saudações: "Epa Heyi Oyá!" é a saudação tradicional para Yansã.
• Iniciação: Seus filhos (devotos) passam por rituais específicos, onde recebem seus colares de contas vermelhas e são preparados para receber sua energia.
• Manifestações: Quando incorporada, Yansã dança com agilidade e força, brandindo seu alfanje e espanta-moscas.
• Devoção Popular: Yansã é invocada para proteção, coragem, superação de obstáculos e transformação pessoal.

Yansã na Cultura Afro-Brasileira

• Influência no Candomblé e na Umbanda: Yansã é uma das orixás mais populares no Brasil, sendo cultuada em diversas casas de axé.
• Representação na Arte: Yansã é retratada em esculturas, pinturas e performances artísticas, sempre com seus símbolos característicos.
• Música e Dança: Suas cantigas e danças são parte essencial dos rituais, celebrando sua energia vibrante e guerreira.
• Literatura e Cinema: Yansã aparece em obras que exploram a mitologia africana e afro-brasileira, destacando sua importância cultural.

Curiosidades sobre Yansã

• Número Sagrado: O número nove é sagrado para Yansã, representando seus nove filhos e os nove braços do rio Niger.
• Animais Sagrados: Búfalo e cabra são animais associados a Yansã.
• Lugares de Devoção: Na África, Yansã é cultuada em Porto Novo (Benim) e ao longo do rio Niger.
• Frase Yorubá: "Máa jé, máa mu, awó re nbe ninu aká" ("Você pode beber e comer, mas sua pele está no depósito"), frase usada na lenda do búfalo.

Yansã como Inspiração

• Empoderamento Feminino: Yansã é um símbolo de força e independência para as mulheres, inspirando coragem e determinação.
• Transformação Pessoal: Sua energia ajuda a superar medos e enfrentar mudanças necessárias na vida.
• Proteção Espiritual: Yansã é invocada para afastar energias negativas e proteger seus devotos.

Yansã (Oyá) é uma das divindades mais fascinantes e poderosas das religiões afro-brasileiras. Sua energia vibrante, sua coragem e sua conexão com os elementos naturais a tornam uma figura central no panteão dos orixás. Através de seus mitos, símbolos e rituais, Yansã continua a inspirar e proteger seus devotos, representando a força da mulher guerreira e a transformação que renova a vida.

Epa Heyi Oyá! Que Yansã nos inspire a ser fortes, corajosos e fiéis aos nossos princípios, assim como ela é.