OXALÁ

Oxalá, o primeiro orixá criado por Olorum, é símbolo de pureza, paz e sabedoria. Representado pela cor branca, ele modelou os corpos humanos e é reverenciado como pai protetor. Conheça sua jornada, poderes e importância no panteão africano.

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OXALÁ

Orixá Pai da Criação e da Serenidade

Oxalá, também conhecido como Obatalá, é uma das figuras mais veneradas no panteão africano, especialmente dentro das tradições Yorubá, que se expandiram para o Brasil através do Candomblé e da Umbanda. Ele é considerado o primeiro orixá criado por Olorum (ou Olodumaré, o Deus Supremo), sendo o arquiteto do mundo material e espiritual. Sua importância transcende as fronteiras religiosas, sendo reverenciado tanto na África quanto nas Américas, onde sua figura foi sincretizada com o Senhor do Bonfim, uma devoção católica profundamente enraizada na cultura baiana.

Origem e Missão Divina

A criação de Oxalá marca o início de tudo. Segundo a lenda, ele foi concebido por Olorum com um propósito específico: dar forma ao universo. Para isso, recebeu o saco da criação, um artefato mágico contendo os elementos necessários para moldar a Terra. No entanto, sua jornada não foi isenta de desafios. Oxalá é descrito como um ser de caráter obstinado, independente e altivo, características que, embora refletissem sua força e determinação, também o colocaram em conflito com outros orixás, especialmente Exu, o mensageiro e senhor dos caminhos.

Antes de iniciar sua missão, Oxalá foi advertido a realizar oferendas a Exu, uma prática essencial para garantir proteção e fluidez em sua jornada. Contudo, movido por seu orgulho, ele ignorou essa obrigação. Como consequência, Exu, descontente, lançou sobre ele uma sede insaciável. Durante sua travessia, Oxalá encontrou um dendezeiro e, usando seu cajado sagrado (Opaxorô ou Paxorô), perfurou o tronco para beber o líquido que escorreu – o vinho de palma. Embriagado, ele adormeceu profundamente. Nesse momento, seu irmão mais novo, Odudua, aproveitou-se da situação, roubou o saco da criação e apresentou-se a Olorum como o responsável pela tarefa. Assim, Odudua tornou-se o criador da Terra, enquanto Oxalá foi punido por sua imprudência.

Apesar disso, Oxalá não foi abandonado por Olorum. Como consolo, recebeu a nobre missão de modelar no barro os corpos dos seres humanos, aos quais Olorum insuflaria a vida. Essa função solidificou sua imagem como o "proprietário da boa argila" (Olomanrere) e reforçou seu papel como o pai protetor da humanidade.

Características e Simbolismo

Oxalá é representado pela cor branca, símbolo de pureza, serenidade, paz e equilíbrio. Seus devotos vestem-se exclusivamente de branco, e suas cerimônias são marcadas por um silêncio respeitoso, refletindo a tranquilidade e a sabedoria que ele personifica. A cor branca também está associada à neutralidade e à capacidade de mediar conflitos sem recorrer à violência. Oxalá é visto como um líder sábio, capaz de resolver disputas através da argumentação e do diálogo.

Ele é frequentemente retratado como um homem idoso, curvado pelos anos, apoiando-se em seu bastão de estanho, o Opaxorô, encimado por uma imagem de pássaro, que simboliza sua conexão com o céu e o divino. Esse pássaro também representa a visão ampla e a perspectiva elevada que ele mantém sobre os assuntos terrenos. Seu andar hesitante e lento contrasta com a força interior que ele exala, uma combinação que inspira respeito e admiração.

No entanto, Oxalá não é apenas um ancião tranquilo. Ele possui múltiplas facetas, como evidenciado pelas diferentes manifestações de sua energia divina. Entre as mais conhecidas estão:

  1. Oxalufan: Um Oxalá muito velho, representando a sabedoria ancestral e a paciência infinita. Ele é frequentemente associado à figura de um ancião que carrega os fardos da idade com dignidade.
  2. Oxagiyan: Um guerreiro jovem e valente, conhecido por sua bravura e amor pelo inhame pilado. Sua energia é dinâmica e vigorosa, contrastando com a serenidade de Oxalufan.

Essas duas faces de Oxalá ilustram a dualidade presente em sua natureza: a calma reflexiva e a força ativa, ambas essenciais para a harmonia universal.

Relações e Família Divina

Oxalá é considerado o pai de todos os orixás, uma posição que lhe confere autoridade máxima no panteão. No entanto, suas relações familiares são complexas. Ele foi casado com Yemanjá, a rainha do mar, e alguns mitos atribuem a essa união a criação dos demais orixás. Outras versões mencionam Nana Buruku como sua companheira, com quem teve filhos como Iroko, Oxumarê e Obaluaiê (também conhecido como Omolú).

Curiosamente, Oxalá também é associado à monogamia, uma raridade entre os orixás. Sua única esposa, Yemowo, é reverenciada ao seu lado nos templos, e suas estátuas são colocadas juntas, cobertas com traços e pontos feitos de giz, símbolo de sua pureza e conexão espiritual.

Lendas e Ensinos

Uma das lendas mais emblemáticas sobre Oxalá envolve sua visita ao reino de Xangô, o orixá do trovão e da justiça. Antes de partir, Oxalufan consultou um Babalaô (sacerdote adivinho), que o alertou sobre os perigos da viagem. Apesar dos avisos, ele seguiu em frente, enfrentando provações impostas por Exu em suas várias formas: Exu Elopo Pupa (dono do azeite de dendê), Exu Eledu (proprietário do carvão) e Exu Aladi (senhor do óleo de amêndoa de palma). Em cada encontro, Oxalufan foi humilhado e sujo, mas seguiu as instruções do Babalaô, lavando-se e trocando de roupa sem reclamar.

Sua perseverança foi recompensada quando, após sete anos de injustiça e sofrimento, Xangô reconheceu seu erro e pediu perdão. A libertação de Oxalufan trouxe prosperidade de volta ao reino, simbolizando o poder redentor da paciência e do perdão.

Culto e Celebrações

O culto a Oxalá é marcado por rituais solenes e festividades que celebram sua importância. Na Bahia, a Lavagem do Bonfim é uma das manifestações mais conhecidas, onde baianas vestidas de branco lavam o chão da igreja em um ato de devoção que mistura tradições africanas e católicas. Essa cerimônia é uma homenagem à pureza e à limpeza espiritual associadas a Oxalá.

Outro evento significativo é o ciclo de festas dedicado à lenda de Oxalufan e sua prisão injusta. Durante semanas, os devotos recriam sua jornada, desde sua partida até seu retorno triunfal. A "Água de Oxalá", coletada em fontes sagradas, é usada para purificar seus axés (energias divinas), simbolizando a renovação e a reconciliação.

Características dos Devotos de Oxalá

Os devotos de Oxalá são conhecidos por sua calma, dignidade e firmeza de caráter. São pessoas que enfrentam os desafios da vida com paciência e resignação, aceitando os resultados de suas escolhas, sejam eles positivos ou negativos. Essas qualidades refletem a influência de Oxalá, que ensina a importância de manter a serenidade mesmo nas situações mais adversas.

Oxalá é muito mais do que um simples orixá; ele é o símbolo da criação, da sabedoria e da paz. Sua história é repleta de lições sobre humildade, paciência e resiliência, valores que continuam a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo. Seja como o ancião sábio ou o guerreiro valente, Oxalá personifica a harmonia entre o céu e a terra, o divino e o humano, o silêncio e a ação. Sua presença é um lembrete constante de que, mesmo diante das maiores dificuldades, a serenidade e a fé podem guiar nossos passos rumo à luz.

1. Características Gerais

  • Nome e Títulos:
    • Conhecido como Oxalá, Obatalá, Orixalá, Alabalaxé, Olomanrere, entre outros.
    • Saudado como "Êpa Babá" (Viva o Pai) ou "Exé Eee!" (Boa Atividade).
    • Considerado o primeiro orixá criado por Olorum (ou Olodumaré), o Deus Supremo.
  • Personalidade:
    • Caráter obstinado, independente e altivo, mas também sensível e sábio.
    • Representa a serenidade, a calma e o equilíbrio, evitando violência e disputas.
    • É um líder natural, respeitado por sua autoridade moral e capacidade de resolver conflitos através da argumentação.
  • Aparência:
    • Frequentemente representado como um homem idoso, curvado pelos anos, apoiando-se em seu bastão sagrado (Opaxorô ou Paxorô).
    • Seu bastão é encimado por uma imagem de pássaro, simbolizando sua conexão com o céu e o divino.
    • Vestido exclusivamente de branco, refletindo pureza e neutralidade.
  • Relações Divinas:
    • Casado com Yemowo, uma exceção à poligamia comum entre os orixás.
    • Pai de diversos orixás, incluindo Iroko, Oxumarê e Obaluaiê (Omolú), fruto de uniões com Nana Buruku e Yemanjá.
    • Grande rival de Odudua, seu irmão mais jovem, que roubou sua missão de criar o mundo.

2. Elementos e Símbolos

  • Cor:
    • Branco, associado à pureza, paz, serenidade e espiritualidade.
    • Representa a neutralidade e a ausência de violência.
  • Símbolos Principais:
    • Opaxorô/Paxorô: Bastão de estanho usado para cerimônias e apoio em suas jornadas.
    • Giz (Ofá): Usado para traçar símbolos sagrados e purificar espaços.
    • Água: Simboliza limpeza espiritual e renovação.
  • Animais Associados:
    • Pássaros, especialmente aqueles que adornam seu bastão, representando sua ligação com o céu.
    • Cavalos, mencionados em lendas como parte de sua jornada.
  • Plantas e Alimentos:
    • Inhame pilado, preferido de Oxagiyan.
    • Milho cozido, sem sal nem azeite de dendê, oferecido em rituais.

3. Domínios e Poderes

  • Criação e Modelagem:
    • Recebeu o saco da criação de Olorum, embora tenha perdido a missão para Odudua.
    • Foi incumbido de modelar no barro os corpos dos seres humanos, aos quais Olorum insuflaria a vida.
  • Justiça e Sabedoria:
    • É o mediador supremo, capaz de resolver disputas e promover harmonia.
    • Representa a justiça divina e a retidão moral.
  • Purificação e Cura:
    • Associado à limpeza espiritual e física.
    • Protege contra doenças e impurezas, especialmente aquelas causadas por desequilíbrios espirituais.
  • Proteção dos Vulneráveis:
    • É patrono de pessoas com deficiências físicas, albinos e outras condições consideradas "contrafeitas", resultado de seus momentos de embriaguez durante a modelagem humana.

4. Ritualísticas e Oferendas

  • Roupas e Adornos:
    • Devotos vestem-se exclusivamente de branco, com turbantes e colares de contas brancas.
    • Silêncio e comportamento respeitoso são essenciais durante rituais.
  • Oferendas:
    • Alimentos: Inhame pilado, milho cozido, frutas brancas (como coco), leite e mel.
    • Bebidas: Água pura e vinho de palma (proibido para Oxalá, mas usado em rituais específicos).
    • Objetos: Giz, tecidos brancos, sinos de metal branco (Adjá) e flores brancas.
  • Rituais Importantes:
    • Lavagem do Bonfim: Na Bahia, baianas lavam o chão da igreja do Senhor do Bonfim em homenagem a Oxalá.
    • Água de Oxalá: Cerimônia de coleta de água sagrada para purificar os axés (energias divinas) de Oxalá.
    • Danças e Possessões: Movimentos lentos e hesitantes, refletindo a idade avançada de Oxalufan.

5. Mitos e Histórias

  • A Embriaguez e o Castigo:
    • Oxalá foi punido por Olorum por se recusar a fazer oferendas a Exu, resultando em sua sede intensa e embriaguez com vinho de palma.
    • Durante seu sono, Odudua roubou o saco da criação, assumindo a tarefa de formar a Terra.
  • A Prisão Injusta:
    • Oxalufan foi injustamente preso por Xangô após ser confundido com um ladrão de cavalos.
    • Sete anos de desgraça assolaram o reino de Xangô até que ele reconhecesse seu erro e libertasse Oxalufan.
  • As Três Roupas Brancas:
    • Em sua jornada, Oxalufan enfrentou provações impostas por Exu, lavando-se e trocando de roupa três vezes para manter sua pureza.
  • Preferências Gastronômicas:
    • Oxagiyan, a manifestação jovem de Oxalá, adorava inhame pilado, que se tornou uma oferenda importante em sua homenagem.

6. Culto e Devoção

  • Dias Consagrados:
    • Sexta-feira é dedicada a Oxalá, dia de realizar cerimônias e prestar homenagens.
  • Sincretismo Religioso:
    • Sincretizado com o Senhor do Bonfim na tradição católica brasileira.
    • A Lavagem do Bonfim é um exemplo de fusão entre práticas africanas e católicas.
  • Devotos e Arquétipos:
    • Os devotos de Oxalá são conhecidos por sua dignidade, paciência e firmeza de caráter.
    • Aceitam os resultados de suas escolhas, bons ou ruins, sem reclamar, refletindo a sabedoria de Oxalá.
  • Festividades Anuais:
    • Ciclo de festas que recriam a prisão e libertação de Oxalufan, culminando com a distribuição de alimentos e danças em homenagem a Oxagiyan.

7. Informações Complementares

  • Arquétipo Espiritual:
    • Oxalá representa o arquétipo do pai protetor, sábio e justo.
    • Inspira respeito e reverência, sendo visto como uma figura paternal que guia e protege seus filhos.
  • Manifestações Divinas:
    • Oxalufan: Manifestação idosa, curvada e hesitante, simbolizando sabedoria ancestral.
    • Oxagiyan: Manifestação jovem e vigorosa, associada à bravura e ao amor pelo inhame pilado.
  • Importância Cultural:
    • Oxalá transcende as fronteiras religiosas, sendo uma figura central tanto nas tradições Yorubá quanto no Candomblé e na Umbanda.
    • Sua influência é evidente na cultura afro-brasileira, especialmente na Bahia, onde sua devoção está profundamente enraizada.
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