OMULU Obaluaiê

Nana Burukê, uma figura maternal e sábia, desejava ardentemente ter um filho. Em sua busca por respostas, consultou Ifá, o oráculo divino, que lhe revelou: "Terás dois filhos com Oxalá, o grande criador." Cheia de esperança, Nana aguardou ansiosamente. Anos depois, grávida, deu à luz seu primeiro filho, Obaluaie. No entanto, ao vê-lo pela primeira vez, sentiu um estranho desprezo e, movida por uma dor inexplicável, abandonou o bebê em uma cesta de palha da costa à beira-mar.

Yemanjá, a rainha das águas, testemunhou o abandono. Comovida, acolheu a criança em seus braços, criando-a como se fosse sua. Obaluaie cresceu sob seus cuidados, ouvindo histórias de seu passado e aprendendo os segredos das águas e da vida. Tornou-se um jovem belo e encantador, mas sua juventude foi marcada por excessos: festas, mulheres e bebidas. Esses desregramentos trouxeram-lhe doenças terríveis, como a varíola, que cobriram seu corpo de feridas e marcas. Envergonhado, Obaluaie cobriu-se com uma roupa feita de palha da costa, escondendo seu rosto e corpo do mundo.

Certa vez, em uma grande festa dos orixás, Obaluaie compareceu sem ser convidado. Muitos o rejeitaram, e ele, tomado pela ira, preparava-se para lançar pragas e doenças sobre os presentes. Oxalá, o pai de todos os orixás, interveio, impedindo a tragédia. Foi então que Yansã, a senhora dos ventos, convidou Obaluaie para dançar. Enquanto rodopiavam, os ventos fortes levantaram as palhas que o cobriam, revelando seu rosto e corpo outrora belos. Todos ficaram maravilhados ao ver a verdadeira essência de Obaluaie, que se transformou em um guerreiro poderoso e temido.

Obaluaie passou a percorrer o mundo com suas tropas, impondo respeito e justiça. Seus inimigos eram derrotados sem piedade, e suas pragas atingiam aqueles que o desrespeitavam. Em suas viagens, chegou ao território Mahí, no Daomé. Os habitantes, aterrorizados, consultaram o oráculo, que lhes disse: "Obaluaie é o grande guerreiro que trará prosperidade. Honrem-no com oferendas e respeito, e ele os protegerá."

O povo seguiu as instruções, oferecendo-lhe inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, carne de bode e pipoca. Prostraram-se diante dele, saudando-o com reverência: "Totô hum! Atotô!" Obaluaie aceitou as homenagens e estabeleceu-se entre os Mahís, trazendo riqueza e proteção à terra.

Obaluaie, também conhecido como Omulu, é o senhor das doenças contagiosas, como a varíola, mas também possui o poder de curá-las. Seu nome verdadeiro é tão poderoso que raramente é pronunciado. Ele é um orixá complexo, que castiga os malfeitores, mas também protege e cura aqueles que o honram. Sua história é um lembrete da dualidade da vida: da dor que transforma e da beleza que se esconde sob as aparências.

Características Gerais:

• Nome: Omulu (também chamado de Obaluaie, Xapanã ou Sakpatá).
• Significado do nome: "Filho do Senhor" (Omulu) ou "Rei, Senhor da Terra" (Obaluaie).
• Origem: Cultuado nas tradições Yorubá e no Candomblé, com forte influência no Daomé (atual Benin).
• Personalidade: Dualidade entre a cura e a doença, justiça e punição, proteção e destruição.
• Aspecto: Representado como um homem coberto por palha da costa, escondendo feridas e marcas de doenças, mas também revelando grande beleza quando descoberto.
• Símbolos: Palha da costa, lança, xaxará (instrumento de limpeza espiritual).

Elementos e Símbolos:

• Elemento: Terra (ligado à terra seca, ao solo e às profundezas).
• Cores: Preto, branco e vermelho (cores que representam sua dualidade e poder).
• Ferramentas: Xaxará (feito de fibras vegetais, usado para varrer energias negativas), lança (símbolo de guerra e proteção).
• Animais: Cachorro (seu fiel companheiro, que lambe suas feridas) e bode (usado em oferendas).
• Comidas: Pipoca (símbolo de transformação), inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê e carne de bode.

Domínios e Poderes:

• Doenças e Cura: Controla doenças contagiosas, como varíola, mas também tem o poder de curá-las.
• Justiça e Punição: Pune aqueles que agem com maldade ou o desrespeitam, enviando doenças e pragas.
• Proteção: Guardião dos doentes e necessitados, oferece proteção espiritual e física.
• Transformação: Representa a capacidade de superar sofrimento e renascer, simbolizada pela pipoca, que "explode" e se transforma.

Ritualísticas e Oferendas:

• Oferendas: Pipoca, inhame, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, carne de bode e velas nas cores preto, branco e vermelho.
• Rituais: Danças com xaxará, banhos de ervas e cerimônias de limpeza espiritual.
• Saudação: "Atotô!" (respeito e submissão, usada para acalmar sua ira).

Mitos e Histórias:

• Abandono e Adoção: Abandonado por Nana Burukê, foi criado por Yemanjá, que o protegeu e ensinou os segredos da vida.
• Revelação da Beleza: Dançando com Yansã, os ventos levantaram sua palha, revelando sua beleza oculta.
• Guerreiro Temido: Percorre o mundo com suas tropas, punindo injustiças e protegendo os que o honram.

Culto e Devoção:

• Dia da Semana: Segunda-feira.
• Sincretismo: Associado a São Lázaro e São Roque na Umbanda e no Catolicismo.
• Festa: Celebrado em cerimônias específicas, onde seus devotos dançam e oferecem presentes em agradecimento por curas e proteção.

Omulu é um orixá complexo, que ensina sobre a dualidade da vida: dor e cura, destruição e renascimento, justiça e misericórdia. Seu culto é marcado por respeito e reverência, pois ele é tanto temido quanto amado por seus poderes e ensinamentos.